Crise dos 20 (e um hiato à mistura)
- Liliana Silva
- 25 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
É verdade, estou a escrever aqui, outra vez, depois de 4 longos meses de hiato. Parece mentira, não é? Agora seria a parte em que trazia uma desculpa muito emocionante e que vos ia fazer chorar, mas, na verdade, estive apenas totalmente embebida pela faculdade e pelas minhas paranoias, mais conhecidas por medo abrupto de ingressar no mercado de trabalho e de ser independente. Gosto de classificar isto como a crise dos 20, apesar de não ser uma crise nada validada pela sociedade, da forma como a crise de meia-idade é. Porquê é que nos preocupamos tanto se temos 20, se somos jovens e cheios de energia? Aliás eu só tenho 20 há um mês, ainda que as minhas dores de costas indiquem que tenho 75 anos e uma hérnia…
Olhem, caros leitores, sinceramente, também não sei a resposta. Só sei que estar no limbo entre ser adolescente e adulto é totalmente sufocante. Parece que existe uma pressão gigante para sermos bem-sucedidos, fazer muito dinheiro e deixar o que gostamos para trás, se isso não gerar dinheiro. Parece que ser adulto é andar em piloto automático e que o único traço que nos distingue é a quantidade de zeros que tem a nossa conta bancária. Além disso, tenho percebido que andar na faculdade é só um pequeno teste para nos mentalizarmos que estamos a entrar nessa fase. AINDA POR CIMA NO MEIO DE UMA PANDEMIA! (Very dramática, Liliana.)
É nestes momentos que me vejo a romantizar os meus 15 ou 16 anos, aquela fase em que é aceitável nos divertirmos desde que tenhamos boas notas, que ainda somos crianças demais para trabalhar e para responsabilidades demasiado “pesadas”. Tenho saudades desses tempos e dos dramas simplórios de início de secundário. E sabem o que é pior? O pior é que sinto que isso tudo aconteceu ontem, que a pandemia estagnou tudo e desde aí que as únicas coisas que interessam é ser produtivo, bem-sucedido, comprar casa e ter um emprego estável.
Não me interpretem mal, porque, afinal de contas, ser independente é o ideal, mas o que me frustra é a pressão que nos é exercida para sermos todos iguais e que existe prazo de validade para sair de casa e para fazer dinheiro, senão somos os “falhados da sociedade”. Por isto mesmo, é que, nos últimos meses, me tenho sentido uma “falhada da sociedade” e tenho tido a tendência de comparar-me, constantemente, a tudo e a todos, só porque ainda não trabalho e não tenho um currículo de 10 páginas.
Foi também neste “tsunami de energias negativas” que parei de treinar, de meditar, de ter momentos de selfcare e de ter vontade de explorar o meu potencial criativo, por me sentir exausta da carga de trabalho da faculdade e de todos os problemas pessoais. Por outro lado, sentia que iria refletir, na minha escrita, este meu lado não tão positivo e que isso iria-me fazer fraca no mundo online, bombardeado constantemente de conteúdo extremamente positivo.
Em contrapartida, também considero que é estúpido ter esta insegurança sobre a minha escrita. Porque é que é aceitável dar overshare nas nossas conquistas, mas não é aceitável expormos que não estamos bem em determinado ponto da nossa vida e que precisamos de uma pausa? Por favor, malta da geração Millenial e Gen Z, vamos tentar mudar isto porque, da mesma forma que eu ando neste impasse horrível, sinto que 50% da nossa faixa etária está a passar pelo mesmo.
Por favor, vamos todos “cagar” em aparências, notas (de dinheiro e da pauta escolar) e simplesmente libertar-nos disto tudo, ir viver para o meio do nada e sermos felizes na natureza. Não era tão melhor? Ou arranjar uma solução mais simples e eficaz, que é priorizarmos mais a nossa felicidade e não o que os outros acham que é o correto para nós.
Sabem, tenho saudades de ser a Lili das Buchas despreocupada e bem humorada e não a Liliana chata que só stressa sobre o futuro. Tinha saudades de escrever neste teclado e de me dizer o que me vai na alma, ainda que seja da forma mais labrega, nada formal e com um tracinho da minha personalidade caótica. Soube bem o desabafo sobre estes últimos meses.
Cumprimentos embuchados e que se lixe a crise dos 20,
Lili das buchas.





Olá! Eu sinto que ainda estou nessa crise e tenho 32 anos! É muito difícil termos que nos sustentar e ter responsabilidades. Por exemplo: eu trabalho a fazer sushi, são longas horas em pé no mesmo sítio. O horário de restaurante é até tarde. Eu gostava de ter um trabalho das 9 às 5, segunda à sexta. Mas com o meu pouco norueguês é difícil. Mudei de trabalho para uma pizzaria como empregada de mesa, e os donos eram uns bullies do caraças, acabei por me despedir ao fim de um mês e voltei para o sushi, mas nesse tempo fiquei desesperada, porque como adulta, e com um apartamento para pagar, não posso ficar sem trabalho. É mesmo mesmo difícil…
eu é que tirei essa foto 😎