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Rascunhos de uma aula apática em papel amachucado

  • Foto do escritor: Liliana Silva
    Liliana Silva
  • 9 de nov. de 2021
  • 2 min de leitura

Estou aqui mas não estou presente. Presente de corpo, ausente de mente. A mente está cansada, nada consciente, então rabisco nesta folha já um pouco danificada numa espécie de escape de realidade.

Gostava de poder escapar, ficar leve que nem uma folha, desprovida de todo o passado e situações que me dão ânsia. Era simples, era uma solução coerente, mas nada me pode retirar deste espaço quadrado, conhecimento quadrado, em busca de um diploma ainda mais quadrado.

Sou um alien, não sinto que pertença aqui. Vagueio muito nos pensamentos, viajo no cérebro o que o mundo não me deixa viajar. Se tivesse uma nave espacial, se fosse um objeto voador não identificado, podia ver toda a galáxia, olhar para as estrelas e não ser um simples número de contribuinte, uma criatura que nada acresce aos 7 mil milhões que partilham o mesmo chão que eu.

Não sou poeta, não sou nada. Sou um vazio. Não há como fugir a esta rotina esmagadora de alma que me persegue. Estou farta que a minha liberdade esteja condicionada a este sistema, a amostras de cultura e de pessoas.

Mas continuo aqui, a escrever, a falar para dentro de mim como se fosse uma personagem principal de um filme e procurasse uma espécie de resposta filosofal para o sentido das coisas. Romantizo o que não há para romantizar, só para não ver a vida a cinzento constantemente.

Deixem-me ignorar só mais uma vez onde estou e com quem estou, esquecer este dossier roxo que está debaixo desta folha amachucada, esquecer o corte que tenho no dedo, esquecer o cansaço que me percorre as veias.

Fugi durante estes curtos instantes, a evitar que a realidade me volte a puxar para o abismo. O meu lápis HB está a ficar sem bico e não tenho afiadeira. Estou paranóica, à minha volta parece que toda a gente sabe do meu pequeno espaço de desvaneio onde me refugio.

É melhor voltar a acordar, seguir a linha, ser formal e politicamente correta. Exemplar e nada lírica. Mas sabem o que me conforta? Saber que este espaço é só meu, exclusivamente a minha propriedade estranho-intelectual, e que ninguém me o tira. O meu caos só a mim me pertence.


Lili das Buchas.




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